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Afroempreendedores misturam cultura e economia para exaltar negritude e ancestralidade em Fortaleza

Afroempreendedorismo: g1 explica conceito que mistura economia e negritude. Resgate à ancestralidade, valorização de identidade, promoção de cultura. O te...

Afroempreendedores misturam cultura e economia para exaltar negritude e ancestralidade em Fortaleza
Afroempreendedores misturam cultura e economia para exaltar negritude e ancestralidade em Fortaleza (Foto: Reprodução)

Afroempreendedorismo: g1 explica conceito que mistura economia e negritude. Resgate à ancestralidade, valorização de identidade, promoção de cultura. O termo “afroempreendedorismo” ainda não está nos dicionários, mas se espalha em diversas iniciativas. Seja na moda, na gastronomia ou na estética, afroempreendedores de Fortaleza misturam a negritude com a economia para criar produtos e serviços que vão além da relação mercadoria-cliente. O g1 apresenta, nesta quinta-feira (20), Dia da Consciência Negra, a história de três afroempreendimentos de Fortaleza que enxergam na cultura e na negritude oportunidades de mercado surgidas em cenários de poucas aberturas. A Feira Negra de Fortaleza, criada em 2019, oferece ao público diversos produtos como roupas, acessórios e bolsas, dando aos afroempreendedores a chance de comercializar itens que valorizam a luta por igualdade racial. O Bar dos Africanos, na Avenida Domingos Olímpio, surgiu como um espaço onde estudantes universitários africanos pudessem se reconectar com os próprios costumes, comidas, músicas e ritmos. O Obinrin Afro Studio nasceu da união de duas amigas que decidiram se profissionalizar no ramo do trancismo. Hoje, o local é mais que um espaço de mudança estética, onde cabelo é trançado e cortado e unhas são pintadas: é também de pertencimento para trabalhadores e clientes. Empenho coletivo Nenzinha Ferreira fala da importância da Feira Negra para os afroempreendedores do estado. Com duas lojas fixas e atividades itinerantes, a Feira Negra de Fortaleza atua como espaço de comercialização dos produtos de mais de 100 afroempreendedores por mês. O empreendimento colaborativo surgiu em 2019 para reunir profissionais que precisavam de um local para expor os seus produtos e serviços. “A importância é a geração de renda. A maioria desses afroempreendedores hoje que estão no coletivo, que o coletivo atende, eles dependem desses espaços de venda para gerar renda para as suas famílias que, na sua maioria, são de periferia”, destacou Nenzinha Ferreira, afroempreendedora e cofundadora da Feira Negra de Fortaleza. Somos empreendedores, mas nós temos um recorte: nós somos empreendedores negros. Quem são os empreendedores negros? Quem é a maioria que está na periferia? É a população negra. Quem é a maioria que está à frente das famílias? São as mulheres negras. A Feira Negra oferta roupas, acessórios, bolsas e artes, todos produzido por pessoas negras. O projeto é mantido por um coletivo com cerca de 20 afroempreendedores fixos, voluntários, que cuidam dos espaços e das atividades. Feita por pessoas negras, Nenzinha explica que a feira também promove debates com questões inerentes à igualdade racial. Nenzinha Ferreira é coordenadora e cofundadora da Feira Negra de Fortaleza. Kid Junior/SVM “Nós temos também as formações, as capacitações. Nós temos toda uma organização com equipes que dão formação, porque a ideia não é só a geração de renda, é a questão da identidade enquanto pessoa negra e também a questão das pautas da negritude”, afirmou a afroempreendedora. “Nós estamos inserindo em várias organizações governamentais, fóruns, conferências, que estão discutindo a pauta da negritude, porque a gente entende que nós não somos só empreendedores, nós somos mulheres negras, nós somos homens periféricos. Então, é importante que a gente esteja por dentro e discutindo, que possamos absorver todas as pautas que importam das questões raciais”, complementou Nenzinha. Espaço de (re)encontros Itiene Julio Lima explica como surgiu o Bar dos Africanos, em Fortaleza. Em 2009, um grupo de estudantes universitários africanos que morava em Fortaleza criou um espaço para se encontrar, escutar as próprias músicas, comer as próprias comidas e matar um pouco da saudade de casa. Assim nasceu o Bar dos Africanos, na Avenida Domingos Olímpio. “É um ponto de encontro porque quando a gente chegou aqui a gente ficava muito restrito, não tinha opções. E não tem lugar que você vai frequentar aqui [em Fortaleza] e você vai escutar a música africana, o ritmo, a dança. Aqui é um lugar onde a gente pode se encontrar e compartilhar as culturas”, explicou Itiene Julio Lima, atual proprietário do bar. Itiene, de Guiné-Bissau, chegou a Fortaleza em 2009, ano em que o bar foi criado, para estudar processos gerenciais. Ele está à frente do bar desde 2019, sendo o quarto gestor do local. “O intuito é tentar mostrar a nossa cultura, de trazer a nossa cultura e compartilhar com brasileiros aqui no Ceará”, comentou. Itiene Julio Lima destacou que o Bar dos Africanos é aberto a todos os públicos. Kid Junior/SVM O bar hoje tem quatro funcionários, entre africanos e brasileiros — algo que também reflete o público que frequenta o local. Segundo Itiene, é grande a variedade de nacionalidades de pessoas que vão ao bar, mas existe uma presença forte do grupo representado pela sigla PALOP: Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. “Aqui é um ponto onde você pode viver um pouco do teu país. Independentemente de onde você seja, mas sempre tem uma coisa em comum. A música, a comida é meio parecida, mas também todo mundo gosta de qualquer tipo de comida que é de lá [da África]”, disse o proprietário. Em meio a administrar um negócio e promover a cultura africana, Itiene encontra mais um desafio: conscientizar o público geral que o Bar dos Africanos pode ser frequentado por todo mundo. “O bar é aberto para todos os públicos. Não tem preconceito de nada. É livre para todo tipo de público”, reforçou. Trabalho ancestral A trancista Lara Andrade relembra a ligação que tem, desde a infância, com o trancismo. Durante a pandemia de Covid-19, a então universitária Lara Andrade — sem bolsa na faculdade ou emprego formal — buscou uma fonte de renda. Assim, a jovem, que tinha 23 anos à época, tirou literalmente da própria cabeça a ideia que virou profissão: investir no trancismo. Lara lembrou que, quando começou, a atividade não era encarada por outras pessoas com a seriedade de uma profissão. No entanto, o cenário mudou nos últimos anos. Acompanhando as mudanças, ela decidiu criar o Obinrin Afro Studio — em que ela é sócia com outra trancista. “Durante esse tempo, a gente percebeu o crescimento, o ‘boom’ que deu, principalmente pós-pandemia, da busca pela trança, pelas técnicas, do surgimento de cursos”, disse a trancista. A afroempreendedora começou a trabalhar como trancista durante a pandemia de Covid-19, em Fortaleza. Ismael Soares/SVM O cabelo é um dos principais elementos de identidade das pessoas negras. Por meio das tranças, Lara consegue se sustentar, dar oportunidade a outras trancistas, manter o studio — que ainda tem profissionais de unhas e corte de cabelo — e o contato com a própria ancestralidade. No entanto, a valorização da profissão e do trabalho das trancistas, para ela, ainda é o principal desafio. “As pessoas precisam ter consciência de que, sim, é um trabalho ancestral, um contexto de diáspora, mas também são pessoas ali que tem famílias, que tem casa, que tem filhos, que querem viajar, que querem ascender socialmente. E eu acho que a gente tem esse direito, de querer ter coisas boas para nossa vida”, disse. Afroempreendedores misturam cultura e economia para exaltar negritude e ancestralidade em Fortaleza. Ismael Soares/Kid Junior/SVM Assista aos vídeos mais vistos do Ceará

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